domingo, 26 de janeiro de 2014

Estou reativando meu blog para publicação de reflexões sobre Direito, Política, Filosofia, Poesia e, quando possível, minhas viagens. Começo com uma reflexão da Hannah Arendt sobre a violência, que ao meu sentir, ajuda-nos a compreender um fenômeno social bem recente: A violência nas manifestações de insatisfação generalizada e rolezinhos.

Para Hannah, a violência começa exatamente no lugar onde termina o discurso. Quando se emudece ou quando recusamos a nos darmos conta da necessidade de compreender o outro e o mundo (sobretudo neste caso que examinamos, da juventude), estabelecendo canais de comunicação.

Sobre esta compreensão, transcrevo um trecho de Hannah: A compreensão é um processo sem fim. Assim, não pode produzir resultados definitivos: é a maneira específica pela qual o homem vive, por que cada indivíduo tem necessidade de se reconciliar com um mundo no qual ele era estrangeiro ao nascer e no seio do qual, na medida de sua indelével singularidade, permanece sempre estrangeiro (In: La Nature du Totalitarisme. Paris: Payot, 2006, p. 34).

A compreensão, que é condição de nossa humanidade, só é possível através da comunicação, do diálogo. Assim, as reações violentas devem ser assimiladas, compreendidas pois são um fato do mundo ao qual temos de permanentemente nos reconciliar. Mas compreender a violência não significa concordar com ela. No entanto, evitá-la sem renunciarmos às conquistas civilizatórias, pressupõe estabelecer um novo começo com a abertura de um canal de efetiva comunicação com os jovens.

Essa comunicação a ser estabelecida deve implicar abertura para o novo, para a alteridade, nunca um doutrinamento, ou uma tentativa de convencer o outro de aderir ao nosso projeto do que seja uma vida boa, de um caminho bom a ser trilhado. O processo de comunicação para a compreensão é também sem fim e deve ser desprovido de qualquer intenção de convencimento do outro, do contrário consistirá apenas numa arma retórica e, como lembra Hannah, as armas, mesmo as retóricas, são instrumentos da violência. A violência só gera mais violência até que se retome o possível diálogo.

É preciso dar voz a quem se vale da violência e mais, não só dar voz mas dar vez a esses jovens. Refazer o modo de definição dos projetos de governo da sociedade, democratizando a tomada de decisões de forma a tornar este processo mais inclusivo, utilizando-se principalmente dessas novas tecnologias de interação cibernéticas como a internet e redes sociais, as quais os jovens estão conectados. A democracia representativa está morta. Mas sobre suas cinzas precisamos, urgentemente, construir algo novo. Quem sabe uma ciberdemocracia como propõe Pierre Lévy (In: Ciberdemocracia. Lisboa: Instituto Piaget, 2003).


A violência explode entre os jovens e em todas situações quando os que apelaram para a violência não foram mais ouvidos, quando suas palavras não mais ecoam, quando se propagam num deserto sem fim, onde não há ouvido humano. Nosso modo atual de governar não têm ouvidos e, talvez nem enxergue bem. As vozes dos que financiaram as campanhas milionárias de nossos representantes, por estarem tão próximas deles ou por serem mais expressivas, não os permitem ouvir as ruas, por isso se faz mais barulho,  explodem-se bombas molotov, quebram-se bancos

A propósito, esta semana os trens pararam de funcionar, faltou água, faltou luz, enquanto o dinheiro que poderia estar sendo investido em infraestrutura está sendo gasto numa copa do mundo de futebol. O grito ensurdecedor de centenas de milhares de pessoas aqui no Rio ecoou num deserto e, aparentemente, não se fez ouvir no Olimpo, onde os deuses na hora de nossa tragédia cotidiana, davam risadas. Com licença, vou dar meu rolezinho!